Conteúdo

Memórias Paroquiais de Cabeceiras de Basto

Riodouro (ano de 1758)

Informação da freguesia de Santo André de Riodouro do concelho de Cabeceiras de Basto. Esta freguesia de Rio Douro é da Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado Primaz de Braga, comarca de Guimarães, concelho de Cabeceiras de Basto, é de El-Rei Nosso Senhor. Tem duzentos e vinte e dois fogos em vários lugares e mil e sessenta pessoas de sacramento. Está entre montes situada que correm de Norte a Sul, divididos com dois rios, não se descobre dela povoação alguma populosa.

A igreja está fora do lugar, e o mais vizinho que está também só está arredado da igreja um tiro de espingarda que não fará senão chegar lá o chumbo.

Tem quinze lugares que vêm a ser: o Rio Douro, Eiró, Fundevila, Teixugueira, Travassô, Magusteiro, Moscoso, Toninha, Juguelhe, Formigueiro, Meijoadela, Vilela, Leiradas, Arnela, Cambeses.

O orago desta freguesia é Santo André, tem a igreja cinco altares o principal na capela-mor onde está o Santíssimo Sacramento, o padroeiro Santo André e Nossa Senhora do Carmo, no colateral da parte do Evangelho Nossa Senhora do Rosário, abaixo deste o das Almas do Purgatório, da parte da Epístola tem no colateral Santo António e São Sebastião, mais para baixo o Menino Deus e noutro um Santo Cristo Crucificado. Não tem nave alguma e tem uma irmandade das Almas do Purgatório.

O pároco é vigário colado de renúncia, vagando é apresentar do Dom abade do mosteiro de São Miguel de Refojos de Basto da Ordem de São Bento. Renderá cada ano de frutos certos cem mil réis pouco mais ou menos.

Tem quinze ermidas todas estão dentro dos lugares acima ditos só a de Santo Estêvão está fora do lugar de Eiró para se administrar o Sagrado Viático aos enfermos por estarem os lugares distantes da igreja. Todas são a fabricar dos religiosos de São Bento do dito mosteiro acima. Só a da Senhora da Conceição é de Manuel Carneiro da Costa do lugar de Rio Douro; a da Senhora dos Anjos é de Estêvão Garroso do lugar de Eiró, a da Senhora dos Remédios é dos moradores do lugar de Meijoadello; a de Santa Bárbara é dos moradores do lugar de Cambeses, as dos padres são Santo Estêvão do lugar de Eiró, Santa Eufémia do lugar de Rio Douro, São Bartolomeu do lugar de Teixugueira, Santa Isabel do lugar de Magusteiro, a Senhora das Neves do lugar de Moscoso, Santa Ana do lugar de Toninha, São Tiago do lugar de Formigueiro, São Pedro do lugar de Juguselhe, São Gonçalo do lugar de Vilela, São Frutuoso do lugar de Leiradas, São João do lugar de Arnela. Na ermida de Santa Eufémia em 16 de Setembro vai lá a freguesia fazer clamor e também a freguesia de S. Jorge de Abadim.

Na ermida de Santo Estêvão, no seu dia, vai desta freguesia fazer-se clamor. Na ermida de São Frutuoso a 16 de Abril faz lá clamor esta freguesia e a do São João de Cavez e de Santa Marinha de Pedraça.

Na de São João, a seis de Maio, vai lá esta freguesia fazer clamor e a de São Martinho de Arco.

Nos lugares que estão nas margens dos rios os frutos que colhem mais abundantes é milhão e vinho, castanha e landre nos lugares dos montes centeio.

Este concelho de Cabeceiras de Basto tem a casa do concelho no lugar das Pereiras em que há dois juízes ordinários e câmara a que está sujeita esta freguesia. Serve-se do correio da Raposeira sito nos limites deste concelho que dista desta freguesia grande meia légua e dos lugares os mais remotos dela para cima de uma légua. Dista esta freguesia da cidade de Braga sete léguas grandes e de Lisboa sessenta e duas.

No Terramoto de 1755 não padeceu ruína alguma senão em alguma parede de campos mal segura de pouca perda.

As serras que correm por esta freguesia abaixo não tem nomes determinados porque pelos lugares que estão nelas ou no alto ou nos baixos em cada um tem diferentes nomes e mais que um e neste lugar.

São três serras todas correm de Norte a Sul, todas principiam na freguesia de Santa Maria de Salto do concelho de Montalegre e todas finalizam no fim desta freguesia.

Terão de comprido as duas de fora a légua a do meio légua e meia, de largo nenhuma tem meia légua. Nascem em fontes pequenas e todas humildes, dois rios nos baixos onde principiam as ditas serras correm por esta freguesia abaixo, acaba a da parte do Nascente no Tâmega onde se mete na freguesia de São João de Cavez e ela parte do Poente acaba na freguesia de São Miguel de Refojos. Nela se mete em outro rio igual a ele que vem de São Nicolau.

Na serra da parte do Nascente tem na testa da parte do Poente o lugar de Meijoado e mais abaixo perto do rio o lugar de Vilela, na do meio tem no cume dela o lugar de Magusteiro, de Moscoso, de Torrinha, de Formigueiro, de Jugurelhe, de Leiradas e abaixo quse no fim o de Arnela e de Cambeses e a igreja para a parte elo Poente e na costa pela parte do Nascente da serra da parte do Poente junto ao rio tem o lugar de Teixugueiras mais abaixo o de Fundevila, mais abaixo o de Eiró. Mais abaixo o de Rio Douro. Os frutos que dão são nos lugares que se tem que já acima se declaram; os gados que nelas se criam, são os de lugares que nelas estão e criam-se nelas coelhos, lebres, em partes perdizes, lobos, raposas, texugos e em partes porcos monteses de passagem. E são de temperamento frio, ventoso e de neve no Inverno.

Os rios desta freguesia são dois que correm de Norte a Sul: um chama-se o rio de Vilela que corre pela parte do Nascente o outro chama-se o rio de Rio Douro que corre pela parte do Poente. Este nasce em limitadas fontes e em terras húmidas por baixo do lugar de Ludoiro Darque deste concelho mas da freguesia de Santa Maria de Salto; o outro nasce da mesma sorte em duas partes por baixo do lugar de Carvalho deste concelho mas da mesma freguesia de Salto. Aos princípios são pequenos e com águas de fontes que lhe ajuntam das serras vão crescendo e como correm por terras montuosas vão sempre arrebatados. E correm todo ano ainda que no Verão pelas muitas levadas que saem deles para campos, levam pouca água onde acabar e nenhum outro rio entra nele. E são incapazes de embarcações não só pelas muitas pedras que tem, cachoeiras e açudes mas pela água que levam não ser capaz de navegar barcos.

Criam trutas, bogas e escalos mas as trutas são em mais quantidade que o mais. Pesca-se neles as trutas no tempo do Inverno e no Verão toda a pesca do peixe dito e são livres as pescarias para quem quer caçar. E em parte das suas margens se cultivam campos que tem carvalhos, com vides e donde não tem campos tem matos de urzeiras. Sempre conservam os mesmos nomes e não consta tivessem outros nomes.

O rio de Vilela entra no Tâmega por baixo da ponte de Cavez, o de Rio Douro entra em um rio que vem ele São Nicolau acima da Ponte de Pé. Tem qualquer deles levadas bastantes, açudes e do meio para cima cachoeiras altas por fragas abaixo e poços altos ainda que pequenos. Tem o de Rio Douro uma ponte de pau entre o lugar de Magusteiro e Teixugueiras, outra ele pedra de Teixugueiras para a igreja, outra de pau de Eiró para a igreja e outra de pau de Rio Douro para a igreja, a de Vilela tem uma de pau de Moscozo para […] e outra de pedra de Vilela para a igreja. Tem ambos bastantes moinhos e os povos ou lugares por onde passam que são os acima nomeados usam das águas livremente sem pensão alguma. Terá qualquer deles légua e meia de distância e em dois ribeiros um ou dois lagares de azeite e em outro um pisão.

E não há nesta freguesia outra coisa alguma das conteúdas nos interrogatórios que vieram por ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor provisor deste Arcebispado Primaz de cujo mandado passei esta que mandei fazer e assinei com os reverendos párocos vizinhos de S. Jorge de Abadim e de S. Nicolau de Basto. Hoje em Santo André de Rio Douro a 22 de Maio de 1758.

O vigário António Carneiro da Costa. O abade José Antunes. O reitor de S. Nicolau Domingos Camelo Sousa.


Referências documentais:
IAN/TT, Memórias Paroquiais, VoI. 32, memória 118, pp. 701 a 704. – Tombo da igreja (auto de vedaria apresentada pelo abade de Rio Douro), 1549, cx. 246, 1. – Obrigação à fábrica do Santíssimo Sacramento a favor dos fregueses, 1721, 49, 103. – Obrigação à fábrica de uma capela de vínculo, 1737, 59, 367.

Texto transcrito, com actualização da grafia e pontuação, a partir de José Viriato Capela – As freguesias do distrito de Braga nas Memórias Paroquiais de 1758: a construção do imaginário minhoto seiscentista. Braga: Universidade do Minho, 2003.
 
Scroll