No entanto, o ritual mantém ao longo dos anos. A Festa das Papas, ora em Gondiães, ora no Samão, ano sim, ano não, mantém o seu vigor, pois decorre de uma promessa feita na Idade Média, pelos respectivos povoados da serra, aquando de uma grande peste que assolou estes povos da montanha, levando esses avoengos a recorrerem a S. Sebastião para os livrar da doença que atingira humanos e animais.
Por isso, todos os anos, no dia 20 de Janeiro, a promessa renova-se e a festa repete-se.
Uma semana antes, começam os preparativos. O pão é confeccionado e cozido pelas mulheres da aldeia para que no dia de S. Sebastião, os produtos sejam benzidos e oferecidos a todos quantos ali se desloquem para honrar o padroeiro. As papas, são feitas pelos homens e podem ser comidas quentes ou frias. A carne de porco é servida em pratos de barro e o vinho verde da região bebido pelas tradicionais malgas de barro.
Neste dia, comem-se as papas, a broa, o toucinho e bebe-se o vinho, produtos que antes são benzidos na Casa do Santo, seguindo posteriormente em carros de bois em forma de procissão para um campo, ao longo do qual se colocam no chão toalhas de linho e sobre as quais se distribuem os alimentos. Uma vara de madeira, serve de medida para distribuir o pão, a carne, as papas e o vinho ao longo de dezenas e dezenas de metros desta “mesa” improvisada.
Finda a refeição algumas pessoas levam consigo os pedaços de broa que lhes coube em sorte e que depois guardam durante algum tempo em casa por causa da afamada “mezinha” que acreditam existir no pão que foi benzido. Os mais crédulos dizem mesmo que nunca ganha bolor e que serve de remédio para as doenças que afectam as pessoas e os animais.
Pela sua originalidade, pelo seu tipicismo, e sobretudo, pelo seu ritual próprio, a “Festa das Papas” representa uma das manifestações culturais e religiosas mais puras e tradicionais de Cabeceiras de Basto.