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CPCJ aprovou Plano de Atividades para 2017

Plano pretende alertar para as problemáticas da sociedade

21 de março, 2017
CPCJ promoveu em abril de 2016 Mês da Prevenção dos Maus Tratos na Infância
A comissão alargada da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Cabeceiras de Basto reuniu no passado dia 15 de março. Nesta reunião, entre outros assuntos, foi aprovado o Plano de Atividades para o corrente ano que prevê a dinamização e implementação de um largo conjunto de iniciativas com o envolvimento dos parceiros e da comunidade em geral.
Ações de formação e de sensibilização para diferentes temáticas como o bullying, o ciberbullying, maus tratos na infância, comemoração de efemérides, palestras, atividades educativas, lúdicas, desportivas, culturais e recreativas, integram o referido Plano que pretende alertar a comunidade para as problemáticas da sociedade de hoje, bem como promover a inclusão, a solidariedade, e o respeito pela dignidade humana.

Em jeito de reflexão partilhamos aqui o texto introdutório da autoria do Doutor Joaquim Jorge Carvalho membro da Comissão:

Retrato mínimo de um máximo quotidiano
O homem chega a casa e, em vez da mulher, tem à espera uma folha de papel com um recado: “Chego tarde (reunião da comissão alargada). Por favor, ferve a sopa. O menino está em casa dos meus pais. Beijo.” O homem suspira sem azedume, ferve a sopa, vai a casa dos sogros buscar o filho. O miúdo não estranha a ausência temporária da mãe.
- Está na comissão?
- Está.
Quando a mulher chega, a mesa já está posta. O marido e o filho beijam-na festivamente. Jantam em paz, apesar dos protestos do petiz, que acha excessiva a quantidade de sopa no seu prato. Mas a mulher, por segundos, suspende a refeição, como se um filme estivesse ocorrendo por dentro dos seus olhos, demasiado vívido para ser ignorado ou esquecido.
- Como foi o teu dia? – pergunta o homem, tocando-lhe ao de leve nas costas da mão esquerda, acordando-a para a realidade doméstica.
Ela sorri, mas não está exatamente alegre. Fala então da menina que talvez tenha sido vítima de abuso e do muro de silêncio (cobarde e cúmplice) dos familiares; da rapariga desempregada que se prostitui para arranjar o dinheiro da sobrevivência, e dos filhos sozinhos em casa, maus alunos e com processos disciplinares por comportamento inaceitável; das ameaças de uma besta qualquer a uma colega do serviço social, que prometeu matar se não lhe dissessem onde estava a esposa (vítima de murros e pontapés, ao longo de anos, entretanto fugida para uma casa no Porto); de um menino que escapou de uma instituição, por achar que é capaz de viver sozinho dos doze aos dezoito anos; das numerosas faltas - de dinheiro, de alimento, de emprego, de amor - que cada novo caso configura e que a mulher vai assinalando no seu caderninho de trabalho.
O filho tem os olhos muito abertos e uma vontade, igual à do pai, de abraçar a mulher, que é (dir-se-ia) uma espécie de consciência do mundo, de voz dos necessitados, de anjo (corpóreo e material) do Bem.
- Custa-te muito, mãe?
A mulher dá uma gargalhada.
- Tudo custa um pouco, filho, se quisermos fazer bem. Não é?
E fala-lhe também (num discurso já outro, já solar, que interrompe o nevoeiro anterior) daquela rapariga que enfim arranjou emprego e se vem revelando uma mãe exemplar; de três irmãos salvos da incúria e da violência de pais irresponsáveis, que vivem numa instituição e se dizem aliviados e felizes; do homem que recuperou os filhos, livre do alcoolismo, e parece uma pessoa verdadeiramente nova.
Ao marido e ao filho, a mulher parece agora, enquanto fala, habitada de luz e de música.
Antes de se deitar, o homem vê-a ainda com papéis, nos quais ela vai inscrevendo notas ou fazendo sublinhados.
- Demoras? – pergunta ele com bonomia.
- Não. Estavas só a rever o Plano de Atividades para este ano.
- Ainda precisam de mais atividades?
Ela encolhe os ombros à ironia.
- Estas são atividades boas que ajudam a prevenir atividades más.
Ao longe, tocam sinos assinalando as horas. É já noite – e, contudo, olhando-se atentamente para os olhos da mulher, pode muito bem adivinhar-se a aurora

- Cabeceiras de Basto, 15 de março de 2017 - Joaquim Jorge Carvalho
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