CPCJ aprovou Plano de Atividades para 2017
Plano pretende alertar para as problemáticas da sociedade
21 de março, 2017
A comissão alargada da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Cabeceiras de Basto reuniu no passado dia 15 de março. Nesta reunião, entre outros assuntos, foi aprovado o Plano de Atividades para o corrente ano que prevê a dinamização e implementação de um largo conjunto de iniciativas com o envolvimento dos parceiros e da comunidade em geral.
Ações de formação e de sensibilização para diferentes temáticas como o bullying, o ciberbullying, maus tratos na infância, comemoração de efemérides, palestras, atividades educativas, lúdicas, desportivas, culturais e recreativas, integram o referido Plano que pretende alertar a comunidade para as problemáticas da sociedade de hoje, bem como promover a inclusão, a solidariedade, e o respeito pela dignidade humana.
Em jeito de reflexão partilhamos aqui o texto introdutório da autoria do Doutor Joaquim Jorge Carvalho membro da Comissão:
“Retrato mínimo de um máximo quotidiano
O homem chega a casa e, em vez da mulher, tem à espera uma folha de papel com um recado: “Chego tarde (reunião da comissão alargada). Por favor, ferve a sopa. O menino está em casa dos meus pais. Beijo.” O homem suspira sem azedume, ferve a sopa, vai a casa dos sogros buscar o filho. O miúdo não estranha a ausência temporária da mãe.
- Está na comissão?
- Está.
Quando a mulher chega, a mesa já está posta. O marido e o filho beijam-na festivamente. Jantam em paz, apesar dos protestos do petiz, que acha excessiva a quantidade de sopa no seu prato. Mas a mulher, por segundos, suspende a refeição, como se um filme estivesse ocorrendo por dentro dos seus olhos, demasiado vívido para ser ignorado ou esquecido.
- Como foi o teu dia? – pergunta o homem, tocando-lhe ao de leve nas costas da mão esquerda, acordando-a para a realidade doméstica.
Ela sorri, mas não está exatamente alegre. Fala então da menina que talvez tenha sido vítima de abuso e do muro de silêncio (cobarde e cúmplice) dos familiares; da rapariga desempregada que se prostitui para arranjar o dinheiro da sobrevivência, e dos filhos sozinhos em casa, maus alunos e com processos disciplinares por comportamento inaceitável; das ameaças de uma besta qualquer a uma colega do serviço social, que prometeu matar se não lhe dissessem onde estava a esposa (vítima de murros e pontapés, ao longo de anos, entretanto fugida para uma casa no Porto); de um menino que escapou de uma instituição, por achar que é capaz de viver sozinho dos doze aos dezoito anos; das numerosas faltas - de dinheiro, de alimento, de emprego, de amor - que cada novo caso configura e que a mulher vai assinalando no seu caderninho de trabalho.
O filho tem os olhos muito abertos e uma vontade, igual à do pai, de abraçar a mulher, que é (dir-se-ia) uma espécie de consciência do mundo, de voz dos necessitados, de anjo (corpóreo e material) do Bem.
- Custa-te muito, mãe?
A mulher dá uma gargalhada.
- Tudo custa um pouco, filho, se quisermos fazer bem. Não é?
E fala-lhe também (num discurso já outro, já solar, que interrompe o nevoeiro anterior) daquela rapariga que enfim arranjou emprego e se vem revelando uma mãe exemplar; de três irmãos salvos da incúria e da violência de pais irresponsáveis, que vivem numa instituição e se dizem aliviados e felizes; do homem que recuperou os filhos, livre do alcoolismo, e parece uma pessoa verdadeiramente nova.
Ao marido e ao filho, a mulher parece agora, enquanto fala, habitada de luz e de música.
Antes de se deitar, o homem vê-a ainda com papéis, nos quais ela vai inscrevendo notas ou fazendo sublinhados.
- Demoras? – pergunta ele com bonomia.
- Não. Estavas só a rever o Plano de Atividades para este ano.
- Ainda precisam de mais atividades?
Ela encolhe os ombros à ironia.
- Estas são atividades boas que ajudam a prevenir atividades más.
Ao longe, tocam sinos assinalando as horas. É já noite – e, contudo, olhando-se atentamente para os olhos da mulher, pode muito bem adivinhar-se a aurora”
- Cabeceiras de Basto, 15 de março de 2017 - Joaquim Jorge Carvalho