Conteúdo

A vida e a obra do Padre Dr. Joaquim dos Santos em debate na Casa do Tempo

Joaquim Gonçalves dos Santos recebeu em 1999 a medalha de ouro de mérito concelhio

2 de novembro, 2016
A vida e a obra do Padre Dr. Joaquim dos Santos em debate na Casa do Tempo
O presidente da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto, Francisco Alves, moderou no passado dia 28 de outubro a tertúlia ‘Maestro e Padre Dr. Joaquim dos Santos - A vida e a obra’ integrada no Ciclo de Tertúlias que a Casa do Tempo tem vindo a organizar com o intuito de promover o património material e imaterial concelhio, contribuindo para divulgar e promover a história local, as pessoas, os usos e costumes de um povo que perpassam gerações e integram a nossa identidade coletiva.
Evocando a vida e a obra do Padre Joaquim dos Santos, ilustre Cabeceirense e compositor de renome internacional, os quatro oradores convidados – Nuno Costa (compositor), Vítor Matos (maestro titular da Orquestra de Guimarães), Paulo Almeida (professor) e José Carlos Azevedo (maestro do Orfeão de Guimarães) – foram unânimes em considerá-lo “uma pessoa simples, humilde, muito culta e criativa, afável e com um grande amor à arte” (musical).

“Resgatar a memória de alguém como o Padre Joaquim dos Santos é de extrema importância”, afirmou o compositor Nuno Costa, único português que recebeu até ao momento o prémio internacional ‘ISCM Young Composer Award’, lançando à Câmara Municipal o desafio de “editar a obra de Joaquim dos Santos”.

Também o maestro Vítor Matos e o professor Paulo Almeida, que conviveram e trabalharam alguns anos com Joaquim dos Santos, lançaram o repto para que se criasse um festival de música dedicado à obra do padre compositor, considerado pelo maestro José Carlos Azevedo “um homem de fé conhecido e reconhecido internacionalmente”.

Joaquim Gonçalves dos Santos recebeu em 1999 a medalha de ouro de mérito concelhio. Licenciado em Canto Gregoriano e Composição, a sua produção é abundante e variada, tocando os vários sectores da arte musical, desde a recolha e harmonia de canções populares, passando por canções didáticas para piano e/ou instrumentarium Orff, composições para banda, coro e banda, música de câmara, até à música sinfónica e coral-sinfónica.

O presidente da Câmara, Francisco Alves, que também foi aluno do Padre Dr. Joaquim dos Santos, contou aos presentes algumas das histórias vivenciadas com o seu professor, considerando-o uma pessoa muito atenta, simpática e bem-humorada.

O público muito interventivo partilhou também inúmeras histórias, experiências e até peripécias resultantes da convivência com o Padre Joaquim dos Santos.

No final da sessão, o prestigiado grupo musical Ensemble Cant’Arte interpretou temas originais do saudoso compositor.

Na Casa do Tempo viveu-se, assim, mais um momento cultural muito profícuo, um momento que possibilitou a recordação de uma figura ilustre que deixou marcas na cultura Cabeceirense.

Curriculum

Joaquim Gonçalves dos Santos nasceu a 13 de abril de 1936 na freguesia de Riodouro, concelho de Cabeceiras de Basto. Filho e neto de “amantes da música” – o pai e o avô tocavam guitarra, flauta transversal e harmónica – Joaquim dos Santos estudou no Seminário de Braga e após a sua ordenação sacerdotal foi nomeado professor de música no Seminário de Filosofia de Braga, frequentando no Conservatório da cidade, além de outros, os cursos de Composição, Canto e Solfejo.

Em 1963 seguiu para Roma, a expensas próprias, conseguindo uma bolsa de estudo do Estado Italiano. Logo a seguir em 1964, até final do curso à data de 1969, da Fundação Calouste Gulbenkian.

Licenciado em Canto Gregoriano e Composição. Possuidor do Curso Complementar de Órgão pelo Pontifício Instituto di Musica Sacra de Roma e do Curso de Direção e Interpretação Polifónica do Conservatório de Santa Cecília de Roma.

Em 1965 foi premiado com uma viagem de estudos à Alemanha, pelas suas composições (várias para órgão, piano, violino e dois pianos e coro), executadas em concertos nas salas do Pontifício Instituto di Musica Sacra.

Regressado a Portugal exerceu a sua atividade musical no Seminário Conciliar de Braga e depois no Colégio Arquidiocesano de Cabeceiras de Basto, bem como em várias escolas do Estado e na Escola Superior de Fafe. A partir de 1983 lecionou História da Música no Instituto Superior de Teologia de Braga, e Composição, Piano e Órgão no Seminário. A 13 de abril de 1984 estreou-se, em versão orquestral.

Últimas criações

Roma Eterna, sinfonia para orquestra; Passio et Mors D.N.J.C. Secundum Lucam, oratório para cinco solistas, coro e orquestra; Laudes Creaturarum, S. António dos Portugueses e Noiva do Marão, cantatas para barítono solo, coro e orquestra; Concertos para piano e orquestra, violino e orquestra, clarinete e orquestra de sopros, violoncelo e orquestra de sopros; Prologus para piano solo; Capricio e Pequena Fantasia para marimba e órgão; Sinfonia do Silêncio para barítono, violino e órgão.

O compositor identificado com a estética do seu tempo, revelando-se na sua obra influências dos compositores M. Ravel, B. Britten, I. Stravinsky, F. Martin e K. Penderecki, faleceu a 24 de junho de 2008.

Já depois da sua morte, em 2009, a Câmara Municipal perpetuou a vida e obra desta ilustre personalidade, atribuindo a um dos Centros Escolares da vila de Cabeceiras de Basto o nome Padre Doutor Joaquim Santos.
Scroll