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Fernando Ruas defende medidas de discriminação positiva para o interior do país

Ex-autarca foi o orador convidado da conferência «O Poder Local e a Interioridade»

6 de março, 2014
Fernando Ruas defende medidas de discriminação positiva para o interior do país
Com o intuito de comemorar os 40 anos do 25 de Abril, o Município de Cabeceiras de Basto está a promover um ciclo de conferências subordinadas a temas relacionados com a instituição da democracia em Portugal. O objetivo é realçar o poder local democrático como uma das maiores conquistas do 25 de Abril, com benefícios diretos e evidentes para o desenvolvimento e coesão do território, nomeadamente das regiões do interior.
‘O Poder Local e a Interioridade’ foi o tema que esteve em destaque na noite de 24 de fevereiro, no arranque deste ciclo de conferências, cujo orador convidado foi o Dr. Fernando Ruas, ex-presidente da Câmara Municipal de Viseu e ex-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), ele que é uma referência nacional no que se refere ao aprofundamento, afirmação, promoção e valorização do importante trabalho desenvolvido pelos autarcas dos Municípios Portugueses.

A sessão, que decorreu no auditório da Casa do Tempo, contou com a presença dos presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal, Dr. China Pereira e Eng. Joaquim Barreto, vereadores e demais autarcas das freguesias e do município, entre outros convidados e público em geral.

Coube ao presidente da Câmara Municipal, Dr. China Pereira, cumprimentar todos os presentes e agradecer a disponibilidade do orador para debater o tema do ‘Poder Local e a Interioridade’, ele que é um conhecedor privilegiado da realidade do poder local.

Depois de evidenciar o percurso e trabalho desenvolvido pelo Dr. Fernando Ruas na Câmara Municipal de Viseu e na ANMP, o presidente da Assembleia Municipal, Eng. Joaquim Barreto, destacou a “obra brilhante” realizada ao longo de 24 anos por aquele autarca viseense.

“Fernando Ruas é um homem de carácter, fiel, leal, sincero, frontal, humilde e amigo do seu amigo”, disse Joaquim Barreto, partilhando da postura de Fernando Ruas que sustenta que “quando estamos a defender a nossa terra e o poder local não há partidos”.

Considerando-o “um homem com poder dentro do poder”, Joaquim Barreto afirmou que Fernando Ruas “está sempre disponível e não se esquece do interior”.

Ruas manifesta “extrema admiração” pelos autarcas

Regozijando-se com a plateia, composta na sua maioria por autarcas, Fernando Ruas começou por manifestar a sua “extrema admiração” por esses mesmos autarcas, a quem deixou um conselho: “se algum dia tiverem de escolher, o concelho/freguesia deve estar em primeiro lugar”, disse, garantindo que “é fundamental gostar e ter disponibilidade para as pessoas, se não não vale a pena ser autarca”.
Expressando a sua enorme satisfação pelo trabalho desenvolvido nos últimos anos pelas autarquias, Fernando Ruas afiançou que “o poder local democratizou e replicou o investimento”.

Destacando a importância do combate ao flagelo da desertificação, Ruas sublinhou que a “centralização tem tido prejuízos enormes”, não só para os territórios, como também para as populações, defendendo, por isso, “medidas de discriminação positiva” para o interior, em detrimento do litoral do país (Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto) que absorve, atualmente, a maior parte dos investimentos públicos. E exemplificou: “se o nosso país fosse um corpo humano, seria um corpo raquítico com duas cabeças enormes”.
Revelando-se um defensor das cidades de média dimensão, Ruas considerou que “se houvesse uma rede de cidades de média dimensão, a desertificação era bem menos preocupante em Portugal”.

No que se refere ao encerramento dos serviços públicos, Fernando Ruas disse que “não pode ser tudo visto como uma base numérica”, salientando que apesar de termos “um país mais desenvolvido temos, ao mesmo tempo, um país mais desequilibrado e mais injusto”, uma filosofia que “temos de alterar completamente”, frisou.

Lamentando que foi “perdida uma oportunidade excelente para fazermos a regionalização” e de combatermos as desigualdades, Fernando Ruas afirmou-se “reformista” mas quando as “reformas são requeridas pela população”, de baixo para cima e não o contrário, explicou.

Considerando que o pilar mais importante da revolução de Abril foi o poder local democrático, Fernando Ruas desejou que Cabeceiras de Basto e os Cabeceirenses continuem na senda do progresso e que o interior tenha as mesmas oportunidades que o litoral. E lançou o repto à plateia: “não percam a oportunidade de reivindicar”.

A finalizar, Fernando Ruas caracterizou este ciclo de conferências promovido pelo Município de Cabeceiras de Basto como “a forma mais sublime e mais correta” de comemorarmos os 40 anos do 25 de Abril em Portugal.

Partilhando as convicções do orador convidado, Joaquim Barreto falou da urgência em inverter o despovoamento do interior com medidas discriminatórias positivas, defendendo a regionalização como sistema de governação que possibilitaria aos municípios captar investimentos e fixar a população, combatendo, desta forma, a desertificação.
Joaquim Barreto lamentou ainda que, muitas vezes, “falte aos nossos governantes o conhecimento do território e a experiência”.

Fazendo uma retrospetiva daquilo que foi a intervenção de Fernando Ruas, que falou “com paixão” da sua cidade de Viseu, o autarca China Pereira reforçou que “as principais conquistas do 25 de Abril foram o poder local, a democracia e a liberdade”.

Lamentando “as grandes assimetrias existentes na distribuição dos Fundos Comunitários”, o presidente da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto ambicionou que o “próximo Quadro Comunitário de Apoio invista mais na coesão social e territorial”, potenciando o investimento nas zonas do interior para que as populações não continuem a ser prejudicadas.

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