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Memórias Paroquiais de Cabeceiras de Basto

Abadim (ano de 1758)

Informação da freguesia de São Jorge de Abadim de Basto deste Arcebispado Primaz de Braga. José Antunes, abade na igreja de São Jorge de Abadim, couto de Abadim, comarca e termo da vila de Guimarães e Arcebispado de Braga Primaz, satisfazendo a ordem deambulatória do Muito Reverendo Senhor Desembargador Provisor Francisco Fernandes Coelho em que determinava Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Dom Frei Aleixo Henriques de Miranda, Bispo eleito de Miranda e Governador deste Arcebispado de Braga Primaz. Informo eu com toda a individuação sobre o que Sua Majestade Fidelíssima que Deus guarde ordena aos interrogatórios que vinham juntos com a mesma ordem ao que satisfaço na forma seguinte, respondendo unicamente aos interrogatórios que tenho que informar por evitar longo processo.

Esta freguesia de São Jorge de Abadim é Província de Entre Douro e Minho e Arcebispado de Braga Primaz, comarca e termo da vila de Guimarães e couto de Abadim de Cabeceiras de Basto. Deste couto é donatário e seu capitão-mor Tadeu Luís António Lopes de Carvalho Fonseca e Camões da vila de Guimarães. Tem esta freguesia cento e três vizinhos, quatrocentas e quinze pessoas em que entram os ausentes e vinte e nove menores.
Está situada na costa de um monte; para o meridiano dela se descobrem algumas povoações como é a freguesia de São Miguel de Refojos, a de Santa Maria do Outeiro, a de S. Pedro de Alvite, a de São Tiago da Faia e grande parte do concelho de Cabeceiras, como na Província de Trás-os-Montes, além Tâmega se descobrem a povoação de Serva, Atei e Mondim de Basto e outras mais povoações e a grande serra do Marão que dista desta freguesia três léguas e meia.

Esta freguesia é couto sobre si que compreende e se compõem de cinco lugares a saber: Aldeia da Torre, de Santo António e no fim deste entre o Poente e Norte está a igreja desta freguesia o lugar de Travassô, o de Porto d’Olho e o das Torrinheiras e os últimos três de pequeno número de vizinhos. O orago dela é São Jorge e a igreja paroquial tem cinco altares: o maior e quatro colaterais e estes são de Nossa Senhora do Rosário, do Menino Deus de São Sebastião e das Almas, e há nesta igreja a confraria do Santíssimo Sacramento com instituição de confrades.

É abadia de padroado secular de que é padroeiro o senhor donatário deste couto. Os rendimentos dos frutos desta igreja são mais ou menos conforme o saque deles entre certos e incertos renderão quatrocentos e sessenta mil réis pouco mais ou menos.

Tem uma ermida no meio do lugar de Santo António com a invocação do mesmo Santo, e fora do lugar de Travassô tem outra da invocação de Nossa Senhora do Bom Despacho. E também fora do lugar das Torrinheiras há outra ermida com a invocação de Nossa Senhora dos Remédios. E de todas elas é o abade desta freguesia administrador e só quando se festejam as sobreditas ermidas concorrem algumas pessoas das freguesias vizinhas a visitarem estes santuários.

Os frutos que os moradores desta freguesia colhem em mais abundância são diferentes pela diversidade dos lugares e clima da terra. Os das duas aldeias da Torre e Santo António colhem em mais abundância milho grosso e milho branco e painço e centeio.

Estes três géneros em menos abundância, como também vinho, azeite, castanha e bolota de carvalho e os dos três lugares Travassô, Porto d’Olho e Torrinheiras colhem em mais abundância centeio e pouco milho e dos mais frutos nenhum por serem terras muito frias.

Tem esta freguesia juiz ordinário e câmara a que, digo, a cuja eleição preside o senhor donatário deste couto de que é seu ouvidor e capitão-mor e somente o corregedor da vila de Guimarães conhece deste couto estando em correição ou nova alçada.

Serve-se este couto e freguesia do correio do concelho de Cabeceiras de Basto que dista desta freguesia um quarto de légua. Dista esta freguesia da cidade de Braga cabeça deste Arcebispado sete léguas e da de Lisboa sessenta e seis léguas.

E está situada no meio da aldeia da Torre desta freguesia, uma antiga e elevada Torre do donatário e senhor deste couto como administrador do morgado dos Carvalhos, o qual não padeceu ruína no Terramoto do ano de 1755.
Não tem esta freguesia serra alguma com denominação própria e o monte em que está situada tem uma légua de distância e principia no sítio chamado Entre-ambos-os-Rios e finda no sítio chamado o Marco da Portela Velha. No alto deste monte está o lugar das Torrinheiras e no meio o de Porto d’Olho e de Travassô.

Produz somente matos como urgem [sic, por urze], carquejas e tojos.

É fria com extremo e dá alguns pastos. Criam-se lobos. Pela parte do Nascente e Ponte deste monte correm dois regatos para o Sul com curso rápido que se unem junto ao lugar de Ponte de Pé e se vão incorporar com o rio Tâmega. Neles se criam algumas trutas e bogas. Suas águas são diminutas, porém perenes todo o ano e delas usam os povos vizinhos livremente.

Em um destes regatos que corre pela parte do Poente há uma ponte chamada da Ranha que é de cantaria de pedra. Neles há vários moinhos e os pertencentes a esta freguesia são seis. Nesta freguesia não há coisa alguma digna de memória, nem se me oferece mais que responder aos interrogatórios.

E por esta me ser mandada a passei na verdade e assinei com os reverendos párocos vizinhos de Santo André de Rio Douro e São Nicolau de Basto.

São Jorge de Abadim e de maio 22 de 1758.

O abade José Antunes. Vigário António Carneiro da Costa. O reitor de S. Nicolau, Domingos Camelo de Souza.
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